Sem noção de tempo, olho os papeis amassados na mesa e percebo que a inspiração desapareceu do meu intimo. Sinto-me só, desacompanhada de emoção seja ela qual for.
O dia vai amanhecendo cinzento la
fora e aqui dentro morre mais um poema em uma folha embolada jogada ao chão.
Não consigo... Tudo me parece tão
enfadonho, tão sem cor, tão inerte, que até a brisa não sopra entra as folhas
das arvores que vejo da minha janela.
E nesse mundo tão inóspito e sem
graça tento imaginar uma maneira de salvar meus próximos dias.
Sinto-me em desvantagem já que
sai da cidade em que nasci, depois de quase quatro décadas, moro num condomínio
de uma classe media não tanto abastada, mas muito reservada, casada com um
cidadão que vive envolvido em livros, equações, computação e viagens a serviço.
Em meus pensamentos, procuro
rever conceitos ou momentos passados tentando sorver algum tipo de sentimento
por eles deixado.
Mas nada consegue retirar essa inércia causada pela solidão que
me acalanta a alma.
Como uma prisioneira do meu
próprio isolamento, arrasto correntes andando no vazio desse apartamento , em plena
madrugada esperando o sono ou um alento que eu sei que não vira . Acendo um cigarro e tomo
um cafezinho para tentar acordar minhas idéias.
Então, uma triste certeza começa
a me abater, é saber que meus confinantes dias que virão não serão tão
diferentes do de hoje, isso causa-me
calafrios, como se pressentisse que minha vida iria esvai-se pelo ralo do
banheiro, e eu acorrentada em minhas decisões deixaria ela passar sem nada poder
fazer.
Procuro então, com meu parco
vocabulário escrever o que vem a mente e ver se consigo dar sentido ao que rabisco
em um papel.
Como um rouco desabafo da minha vida que grita
Nesse quarto branco onde o
silencio sepulcral habita
Tento em vão escrever umas precárias
e idiotas linhas
Sobre minha alma que no momento
encontra-se vazia,
Sem sentimentos sejam eles de aflições
ou de alegrias.
Vejo minha inspiração agonizando diante
de meus olhos aflita
Um descontrole que não deixo ser
percebido por quem acredita
Em tudo aquilo que escrevo e repasso
suavemente, ao meu papel com tinta.
Quem nunca se sentiu assim um dia? Ora seja por solidão, ou qualquer outro sentimento escuro, que teima pairar sobre o peito. Inevitavelmente, não permite que o bom senso reaja. Felizmente se pode contar com o dia seguinte. Pois o mesmo sempre traz novas e boas esperanças.
ResponderExcluirExcelente texto desabo.
Bjsss